Coluna Maktub com Malu Baumgarten

Malu Baumgarten é entrevistada pela colunista e ativista cultural Jammy Said para a Coluna Maktub

Mulher branca, com cabelos cacheados castanhos e franja em frente aos olhos. Veste camisa branca.

A escritora Malu Baumgarten nasceu em Porto Alegre/RS, e atualmente vive em Toronto-Canadá. É autora do livro bilíngue “A poesia da hora braba”/ “Poetry of the Wild Hour” (Editora Invencionática/Bestiário). Publicou em várias coletâneas de prosa e poesia no Brasil. É também fotógrafa e tradutora.

Jammy Said: Quando começou a escrever?

Malu Baumgarten: Escrevo desde criança. A casa da minha família era cheia de livros, e nós todas (eu, minha mãe e minhas irmãs) líamos muito. Meu pai também era um leitor ávido. Na escola, português sempre foi minha matéria preferida, aprender a língua era para mim uma coisa orgânica. Do meu material publicado, os primeiros poemas são da casa dos vinte, vinte e poucos anos de idade. Mas não escrevi sempre. Houve longos hiatos, épocas em que estive ocupada em sobreviver, criar minha filha, e outros momentos em que me dediquei exclusivamente à fotografia. Escrevi aos trancos, por fases, primeiro em português, depois em inglês, por muito tempo sofrendo do complexo de impostora. Foi a pandemia que me trouxe de volta à escrita, quando todo mundo de certa forma se voltou para dentro e ao mesmo tempo as amizades e eventos online proliferaram, nascidas da necessidade de socialização. Ali estabeleci um contato duradouro com escritoras e escritores brasileiros e passei a participar do Sarau da Invencionática e de oficinas de literatura online, direto do Brasil. Isso tudo me deu um desejo de voltar à estudar: agora estou na York University, em Toronto, concluindo a faculdade de Escrita Criativa. Hoje em dia também faço parte do Mulherio da Letras, a partir do Canadá e do Rio Grande do Sul.

 

Jammy Said: Quais elementos da escrita são os mais importantes para você?

Malu Baumgarten: Como disse, a escrita para mim é uma coisa orgânica, é parte de mim. Eu já escrevia antes de resolver aprender a escrever, assim como um artista já desenha e pinta antes de ser aceito na escola de arte. Escrever é parte de mim, não só um ato de expressão, mas também uma necessidade de pertencimento, de comunicação, de influenciar e interagir com o mundo ao redor. É claro que existem todos os aspectos acadêmicos, de forma, conteúdo, de criação e deformação, recriação de um texto, de antropofagia cultural, mas tudo isso são caminhos para chegar a esta expressão do melhor de mim.

 

Jammy Said: Por quê escreve?

Malu Baumgarten: Escrevo para criar o mundo. Para desafiar a indiferença e me reconciliar com o medo. Escrevo para ser, e sem escrever não sei o que sou. Escrevo para que as horas da noite passem lentas e gordas de silêncios, e para que o coração que me dispara conheça enfim a calma do momento exausto. Escrevo porque já não sei dormir, e quando acordo, depois de apagar às altas horas, ainda estou tomada de um receio indefinido, dói-me o peito de uma dor aflita. 

    Escrevo porque sei, e tudo o que sei é inventar a vida. Curiosa, espio os arredores, cato os pedaços mais bonitos, com eles arranjo os espaços onde habito. Cresço montanhas, esquento sóis, limpo rios assoreados. Faço invernos e organizo primaveras. Senhora do verbo, invoco a dor, o êxtase, a alegria, a paz dos dias calados. Deusa, faço luz, e ilumino os mares. Titã, dou aos homens o fogo, e por este crime pago o preço, a cada dia, na batida irregular do coração. Dentro dele mora a águia que me devorará.

    Escrevo porque sou inocente, e de nada me valem as futilidades de consumo e status social. Porque sou cansada, e desejaria dormir o sono dos ignorantes. Porque sou triste, e já não sei da feitura da alegria. As palavras aprendi uma a uma, da mãe, do pai, dos livros, até que passaram a nascer de mim, incontroláveis como coelhinhos de Cortázar. Alinho-as para pensar, para sonhar, para viver, para criar solidariedade e descriar mesquinhez. As palavras são minhas e eu sou delas, sempre estivemos juntas, são o meu ovo e a galinha.

    Escrevo porque preciso. Penso para escrever, escrevo para pensar, e neste processo, mundos morrem e voltam a nascer, amores medram e mágoas se dissolvem, melancolias se fazem meditação. Escrevo porque sei que há outros e nosso coletivo escrever há de conjurar um mundo verdadeiro, onde tudo será possível, exceto a indiferença.

 

Jammy Said: As mídias sociais desempenham um papel para você como autora?

Malu Baumgarten Sim. As mídias sociais me permitem manter contato com escritores, poetas, acadêmicos e editores brasileiros, o que para mim é uma transfusão cultural constante. Estou muito longe do Brasil há tempo, e foram as redes sociais - primeiro o falecido Orkut e depois Facebook - que me possibilitaram manter contato com família, amigos e gente que pensa como eu, além de divulgar meu trabalho, tanto de escrita como de fotografia e tradução. 

    As redes sociais são justamente criticadas pela falta de moderação, pelo extremismo e o ódio que ajudam a transmitir, mas elas servem também para outras coisas. O trabalho de divulgação que você faz, Jammy, é um exemplo, com as feiras internacionais do livro. A rápida criação de movimentos como o Mulherio das Letras, possibilitados pelo Facebook, ou de grupos de escritoras mulheres como o Enluaradas fazem parte do efeito das redes sociais. Acredito que a tecnologia pode nos dar instrumentos para criarmos coisas boas. Como a maioria das pessoas vai usá-la é uma discussão longa demais para esta entrevista!

 

Acompanhe ao trabalho de Malu Baumgarten:

Site: urubuquaqua.com 

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Colunista Jammy Said:

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